segunda-feira, maio 31, 2010

Ainda dá tempo de passar o Dia dos Namorados a dois Especialistas dão dicas de paquera - se matem encalhadas!




Foto: Robert Doisneau
Se a mulher não pode tomar a iniciativa, olhar sempre foi permitido...
Foto de Robert Doisneau. Place du Marché-Saint-Honoré, Paris, 1945



“Há sete anos eu vivia com um homem. Ele foi embora. Para sempre. Pouco depois, minha amiga Cathy encontrou um desconhecido num bar. Ela achou que ele me agradaria. Pediu seu endereço e me deu de presente, proporcionando-me assim um dos episódios mais romanescos da minha vida”. Nem toda história de amor começa de forma tão inusitada como narra a escritora e artista plástica francesa Sophie Calle no prólogo de seu livro “Histórias reais”. Mesmo assim, palavras como criatividade, ousadia e bom-humor devem ser mais do que vocábulos na boca de quem procura uma alma gêmea. Com uma ressalva: os consultores e especialistas em relacionamentos recomendam que a mulher nunca dê o primeiro passo.

Cláudya Toledo é idealizadora e proprietária da A2 Encontros, empresa que existe há 20 anos e está presente nas principais capitais e cidades brasileiras, autora dos livros "Manual da Cara Metade" (2005), "Eles são simples, elas são complexas" (2009) e "Sexo e segredos dos casais felizes" (2009), além de fundadora da Universidade do Amor (ULOVE). Também conhecida como a maior cupido profissional do Brasil, ela acredita que a ousadia, no caso da figura feminina, deve se ater ao gestual. “A mulher não tem que ir atrás do homem e sim, atraí-lo”.

Consultor-especialista em conquista e sedução, Alexander Voger viaja pelo Brasil desde 2008 para dar cursos a homens que desejam dominar a arte da paquera. Em Belo Horizonte, já esteve por 11 vezes. Ele concorda com a companheira de profissão e afirma: “O homem não dá muito valor à mulher que demonstra muito interesse. Não tem o jogo da conquista, é fácil...” Segundo ele, ainda é incomum a mulher abordar o homem e faz uma metáfora: “Imagine alguém que trabalhou três anos para comprar um carro e dedicou toda sua energia para isso. Aí, essa pessoa consegue comprar o carro, mas ganha um exatamente igual em um sorteio. Qual vai ser vendido?”

É curioso pensar que discursos como esse ainda norteiem o jogo da paquera e da sedução. Soa como alguma coisa ultrapassada em tempos de tantas conquistas das mulheres. Quem não conhece uma história de amor que começou com a iniciativa feminina?

Vanessa Moraes, 30 anos, lembra que tinha acabado de passar no vestibular e estava numa boate comemorando a vitória com as amigas. “Vi quando o Rodolfo chegou e achei ele muito bonito. Trocamos olhares na pista de dança, sorrisos... De repente, vi que ele beijava uma mulher. Fiquei decepcionada, mas teve uma hora que nos encontramos no bar, alguma coisa me deu coragem e falei: - Se você não estivesse acompanhado, eu te daria um beijo. Ele ouviu e saiu. Quando já estava na fila para pagar a conta ele apareceu com papel e caneta na mão e pediu meu telefone”. A paquera do casal rendeu mais que um encontro. Vanessa conta que Rodolfo foi seu penúltimo namorado. O último é atualmente seu marido, com quem está casada há dois anos.

Seria esse um caso de exceção? A professora titular da UFMG no Departamento de Psicologia, Sandra Azeredo, estranhou a dica dos especialistas em sedução, mas diz que é explicável: “a definição do que é ser homem e ser mulher não muda fácil. Mulheres são criadas para serem passivas. A mulher tem medo de se colocar ativa e não ser ‘tão mulher’”. Esse engessamento de papéis - que parece não fazer bem tanto a homens quanto a mulheres -, vai evoluir algum dia? A professora Sandra acredita que sim. Para ela, é necessário repetir sempre essa diferença para que seja possível mudar a condição.

Mas não é só na questão de gênero que o jogo da sedução se diferencia. Dependendo da faixa etária de quem procura o ser amado as coisas são mais fáceis ou mais difíceis. Cláudya Toledo explica: até os 30 anos todo mundo poderá ser uma grande figura. Depois dos 30, as pessoas já são algumas coisas e não são outras. Aos 40, já têm cristalizações no corpo, na mente e as pessoas ficam mais definidas e têm menos dúvidas: ou o outro é atraente ou é repelente.

Para “complicar” ainda mais um ato que parece tão corriqueiro como paquerar, Alexander Voger, que em junho deste ano lançará o livro "Sedução Revelada", conta que a conquista passa por três etapas. A primeira ele chama de atração e abrange os momentos iniciais da interação entre o casal. É quando as pessoas estão se conhecendo e o clima precisa ser descontraído, o homem e a mulher precisam se divertir nessa fase. A segunda, o especialista intitulou de CCC (Conforto, Confiança e Conexão). “É quando um se interessa pelo outro e passa a demonstrar mais de si próprio: o que gosta de fazer, os sonhos”. É aí que surge um sentimento mútuo e quanto mais os interesses forem parecidos, maior será a sensação de conexão. É uma fase de `apenas amigos´. A última é a sedução. “Noventa por cento dos alunos que eu tive erram nessa fase. É aqui que o homem precisa "criar o clima". Um olhar mais continuado, a tonalidade vocal mais suave, o uso da linguagem corporal para se comunicar com o outro. Não importa muito o que se está dizendo”... Para ele, nessa etapa é importante tocar o outro. "Cada vez que o homem tocar a mulher, ela vai se acostumar àquele toque", diz.

Depois da teoria, nada melhor do que dicas práticas para ajudar os solteiros que querem encontrar um novo amor - quem sabe até o primeiro! - antes do Dia dos Namorados. Mas antes, dois conselhos. Um feminino, de Cláudya Toledo: “O amor pelo outro começa pelo amor por si”. E o masculino, de Alexandre Voger: “Humor e confiança são atitudes importantes para despertar a atração”.

Dicas de paquera

Ousadia
Cláudya Toledo: No caso do homem é uma qualidade. No caso da mulher, a ousadia tem que ser o gestual e com o gestual atrair o homem para ela. Nos dois casos, no entanto, é importante ter um foco, uma pessoa específica.

Para a mulher, a dica é: andar, aparecer, ir e voltar, desfilar no ambiente. No momento que a mulher escolher alguém, tem que deixar claro a sua escolha. Uma forma de fazer isso é se posicionar de frente para o homem escolhido. Se ele mudar de lugar, ela tem que mudar também. E mais: a mulher que não sorri tem mais dificuldade de ser atraente. O ser humano quer pessoas felizes.

Se mesmo depois de tudo isso, o homem não se mover para ir conhecê-la, não adiantará outra atitude por que a senha de acesso masculina é visual.

Alexander Voger: Na fase da abordagem, é importante a ousadia. O homem não pode esperar indicadores de interesses claros porque a mulher dá sinais de interesse sutis. Com medo da rejeição, muitos homens não têm uma atitude pró-ativa.

Roupa
Cláudya Toledo: Se é uma mulher, ela deve usar roupas que deixem as formas femininas evidentes. Isso não quer dizer que ela precise colocar uma minissaia e um decote. “A mulher pode ir toda coberta, mas se colocar um cinto que marque a cintura, estará vestida adequadamente para a conquista”.

A mulher não precisa se preocupar em usar a roupa da moda. “O homem não tem visão tão clara da moda”. O que a mulher precisa é apresentar sua beleza. Se ela tem pernas bonitas, sugiro uma saia e salto e aí, uma blusa mais fechada. E sempre lembrar da regra do equilíbrio: ou saia curta, ou decote. A mulher deve avaliar o que tem de mais belo.

No caso do homem, Cláudya acredita que o homem com visual clássico tem mais chances de encantar uma mulher do que um homem com visual despojado.

Alexander Voger: Roupa escura que se confunde com o ambiente deve ser evitada. Procure usar os tons mais claros. O homem tem que ter o estilo que se adeque à personalidade dele.

Sinceridade
Cláudya Toledo: As pessoas devem cuidar para não falar tudo que pensa do outro. Existe uma linha tênue entre sinceridade e falta de educação. Guarde para você as verdades absolutas e deixe no passado os relacionamentos antigos.

Alexander Voger: Quando as pessoas estão se conhecendo, tem uma apreensão no ar e é importante brincar e se divertir junto. Nessa fase, a sinceridade não é relevante porque o casal está na defensiva. Num segundo encontro, no entanto, a sinceridade passa a ser importante.

Ironia
Cláudya Toledo: No início das relações, a ironia deixa dúvida. Apenas as pessoas com boa auto-estima e seguras de si lidam bem com a ironia. A pessoa mais sensível e insegura vai se afastar.

Alexander Voger: A ironia está muito ligada ao sarcasmo, é preciso ser claro quando se está interessado em alguém.

Cantadas divertidas
Cláudya Toledo: Recomendo que o homem aprenda a fazer mulher fazer rir. As pessoas têm que ter leveza na relação.

Alexander Voger: Frase feita é bom evitar. Se a mulher escutou, ela vai pensar: - Ele diz isso para todas. Se é a primeira vez que ela escuta, até tem um efeito. Por isso, é preciso cuidado.

Falar de si
Cláudya Toledo: Experiência que tem conteúdo e sentimento, é legal contar. Decoreba do que é tido como cool, mas não tem um link com a sua essência, o outro vai perceber.

Alexandre Voger: O ideal é ir se abrindo em uma narrativa. Para falar sobre si, é preciso um contexto ou pode parecer que a pessoa quer “contar vantagem” e se gabar.

Elogio
Cláudya Toledo: O elogio não pode ser genérico para não parecer bajulação. O elogio tem que especificar e pontuar.

Alexander Voger: O elogio é importante, mas é preciso sempre se lembrar de elogiar o conteúdo e não só a beleza.

Insistir
Cláudya Toledo: O não da mulher não é verdadeiro. Elas pensam: se ele quiser, vai continuar na luta.

Alexander Voger: As mulheres testam os homens. Não é por que ela não aparenta, que ela não quer. O não claro é aquele quando ela diz que vai ao banheiro e não volta ou quando ela passa a evitar o homem. Quando a mulher resiste, mas não evita ou mesmo depois de virar o rosto negando o beijo ela não vai embora, vale a pena persistir.

Assuntos proibidos
Cláudya Toledo: Sugiro que passado seja evitado porque ele tem peso desnecessário. Não estar no presente pode minar o relacionamento.

Falar ou escutar mais?
Cláudya Toledo: No caso da mulher, ouvir mais. No do homem, falar.